terça-feira, novembro 8

Bom Dia, REFUGIADOS



RICOS E POBRES

Anos atrás escrevi sobre um apresentador de televisão que ganhava R$ 1
milhão por mês e que, em uma entrevista, vangloriava-se de nunca ter
lido um livro na vida. Classifiquei-o imediatamente como um exemplo de
pessoa pobre.

Agora leio uma declaração do publicitário Washington Olivetto em que
ele fala sobre isso de forma exemplar. Ele diz que há no mundo os
ricos-ricos (que têm dinheiro e têm cultura), os pobres-ricos (que não
têm dinheiro, mas são agitadores intelectuais, possuem antenas que
captam boas e novas ideias) e os ricos-pobres, que são a pior espécie:
têm dinheiro, mas não gastam um único tostão da sua fortuna em
livrarias, shows ou galerias de arte, apenas torram em futilidades e
propagam a ignorância e a grosseria.

Os ricos-ricos movimentam a economia gastando em cultura, educação e
viagens, e com isso propagam o que conhecem e divulgam bons hábitos.
Os pobres-ricos não têm saldo invejável no banco, mas são criativos,
abertos e efervescentes. A riqueza destes dois grupos está na
qualidade da informação que possuem, na sua curiosidade, na
inteligência que cultivam e passam adiante. São estes dois grupos que
fazem com que uma nação se desenvolva. Infelizmente, são os dois
grupos menos representativos da sociedade brasileira.

O que temos aqui, em maior número, é um grupo que Olivetto nem
mencionou, os pobres-pobres, que devido ao baixíssimo poder aquisitivo
e quase inexistente acesso à cultura, infelizmente não ganham, não
gastam, não aprendem e não ensinam: ficam à margem, feito zumbis.

E temos os ricos-pobres, que têm o bolso cheio e poderiam ajudar a
fazer deste país um lugar que mereça ser chamado de civilizado, mas
que nada: eles só propagam atraso, só propagam arrogância, só propagam> sua pobreza de espírito. Exemplos? Vou começar por uma cena que
testemunhei semana passada.

Estava dirigindo quando o sinal fechou. Parei atrás de um Audi preto,
do ano. Carrão. Dentro, um sujeito de terno e gravata que, cheio de
si, não teve dúvida: abriu o vidro automático, amassou uma embalagem
de cigarro vazia e a jogou pela janela no meio da rua, como se o
asfalto fosse uma lixeira pública. O Audi é só um disfarce que ele
pode comprar pois, no fundo, é um pobretão que só tem a oferecer sua
miséria existencial.

Os ricos-pobres não têm verniz, não têm sensibilidade, não têm alcance
para ir além do óbvio. Só têm dinheiro. Os ricos-pobres pedem, no
restaurante, o vinho mais caro e tratam o garçom com desdém; vestem-se
de Prada e sentam com as pernas abertas; viajam para Paris e não sabem
quem foi Degas ou Monet; possuem TVs de LCD em todos os aposentos da
casa e só assistem programas de auditório; mandam o filho para Disney
e nunca foram a uma reunião da escola. E, claro, dirigem um Audi e
jogam lixo pela janela. Uma esmolinha para eles, pelo amor de Deus!!!

O Brasil tem saída se deixar de ser preconceituoso com os ricos-ricos
(que ganham dinheiro honestamente e sabem que ele serve não só para
proporcionar conforto, mas também para promover o conhecimento) e
valorizar os pobres-ricos, que são aqueles inúmeros indivíduos que
fazem malabarismo para sobreviver mas, por outro lado, são
interessados em teatro, música, cinema, literatura, moda, esportes,
gastronomia, tecnologia e, principalmente, interessados nos outros
seres humanos, fazendo da sua cidade um lugar desafiante e empolgante.

É este o luxo que precisamos, porque luxo é ter recursos para melhorar
o mundo que nos coube. E recurso não é só dinheiro: é atitude e
informação.

Autora: – Martha Medeiros

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